Ler três livros seguidos de uma mesma autora com histórias tão impactantes pode levar a comparações inevitáveis. No entanto, com Carla Madeira, isso não aconteceu. Ela cria narrativas complexas, mas ao mesmo tempo acessíveis, abordando temas que poderiam ocorrer com qualquer pessoa, inclusive comigo e com você, pode acreditar.
Em Véspera, Carla Madeira inicia a história com a provocativa pergunta: “Como se chega ao extremo?”
Este convite me fez mergulhar profundamente na trama e refletir sobre minha -nossa - própria capacidade de entender o que precede um evento extremo e irreversível. Dependendo do contexto em que escuto histórias, posso ter uma compreensão limitada, é indispensável considerar tanto o meu contexto, de quem escuta a história, quanto o de quem está contando a história.
A narrativa é estruturada em dois tempos: o dia do evento extremo e o passado, na véspera. A cada página, experimentei uma mistura de angústia e outros sentimentos. Queria abraçar Vedina, a personagem que comete o ato extremo, e ao mesmo tempo senti raiva dela por não ter agido de maneira diferente diante dos sinais que foram se acumulando no tempo. Esse sentimento de raiva também se voltou contra mim mesma, por julgar suas ações a partir de uma posição de segurança e distanciamento, por não estar envolvida no contexto da história.
A escrita envolvente e como a autora entrelaça as histórias dos personagens, os encontros e desencontros, me provocou a olhar para as ambiguidades e incoerências, para a sombra e a luz, não apenas dos personagens, mas também em mim
Ao final, me vi questionando quem sou diante dos meus próprios fatos extremos e irreversíveis, como me julgo e como me acolho.
Se você já leu este livro, adoraria saber o que achou! E, se ainda não leu, ficou com vontade?
Roberta Rocha
Psicóloga, Terapeuta de casais e famílias, Facilitadora de encontros entre mulheres
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