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Que você se permita ouvir

Foto do escritor: Roberta RochaRoberta Rocha


Ela me pediu para retornar ao processo de terapia. Sua mãe teve uma piora no quadro de saúde. A morte se aproximava.


“Não tem como se preparar para o que está por vir”, ela repetia muitas vezes essa frase nas sessões que antecederam o inevitável.


Eu acolhia com cuidado a verdade que essa frase carrega, uma verdade que gera um sentimento de impotência.


A consciência da finitude a fazia pensar de forma prática em algumas questões. Essa praticidade a preservava de uma dor que só se vive na experiência. Eu queria dizer que a morte de alguém que amamos muito é compatível com a vida, mas guardei essas palavras para depois em que ela estivesse vivendo este momento.


Quando a morte chega, ela não está preparada — ainda bem. Ela está disponível e presente para viver o que precisa ser vivido.


Ela me contou sobre sua mãe com lágrimas nos olhos. Com um leve sorriso, falava de como sua mãe era uma mulher que amava viver. Eu também a ouvia com lágrimas nos olhos.


Ela continuou contando que sua mãe abria as janelas de manhã para o sol entrar.


No finalzinho da sessão, pude dizer: “Que você se permita ouvir a voz da sua mãe quando não quiser abrir a janela.”


A sessão se encerra. Mas, em mim, algo reverbera e me faz refletir: há tanto de vida na morte. E nada é tão nosso quanto nossos lutos.



Roberta Rocha


Psicóloga de meninas e mulheres, Terapeuta de casais e famílias, Facilitadora de encontros entre mulheres


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