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Corpo Desfeito, de Jarid Arraes, é aquele tipo de livro que se lê com um nó na garganta, um aperto no peito e uma angústia que me acompanhou a cada capítulo.
Tentei ler com calma, um capítulo por dia, mas, depois da metade do livro, não consegui manter o ritmo. A ansiedade de terminar era equivalente ao desejo de que tudo acabasse também para Amanda, a personagem principal que narra sua trágica e dolorosa história, não nos poupando de detalhes e convites desconfortáveis à reflexão.
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Amanda relata sua relação com sua avó e mãe, que por causa das pressões sociais, religiosas e de gênero, acaba se tornando conivente com a violência que a filha sofre de sua avó materna.
O que me chama atenção é a presença na ausência das figuras paternas, que trazem para Amanda, assim como para sua mãe, desastrosas consequências, reforçadas também pela negligência de quem poderia ter feito algo por elas.
A escrita de Jarid Arraes é envolvente e perturbadora, me fez sentir o impacto da violência de forma palpável, mostrando como essa violência desfaz a noção de si que está sendo construída na infância e adolescência.
Cada trauma vivido por Amanda me prendeu de uma maneira visceral. Há uma dor que atravessou meu corpo junto com uma reflexão profunda sobre as estruturas que permitem que essa violência aconteça e seja normalizada. Me lembrou tantas mulheres sobreviventes que já acolhi na minha prática clínica.
Em meio a tanta brutalidade, surgem alguns momentos de esperança. As amizades entre meninas, por exemplo, são como pequenos respiros de luz em meio à escuridão. Esses momentos não salvam a história, mas oferecem uma lembrança de que, mesmo nas situações mais difíceis, alguma parte é intocável pela violência.
Será que o corpo desfeito de Amanda teria a chance de ser refeito, apesar da violência, se houvesse mais um capítulo? Essa é uma pergunta que ficou ecoando em mim após o término do livro.
Roberta Rocha
Psicóloga de meninas e mulheres, Terapeuta de casais e famílias, Facilitadora de encontros entre mulheres
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