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Ela chegou ao meu encontro, em meados de 2021, mulher adulta e mãe. Conquistava seu espaço profissional, a vida acontecia como planejava, mas, por dentro, tinha medo, angústia e insegurança.
No que eu escutava, percebia fragmentos soltos da sua transição para a vida adulta, que chegou misturada à adolescência e a uma gravidez.
Ainda adolescente, ela fez um trato consigo mesma: cuidaria da filha e buscaria cada vez mais autonomia. Não mediu esforços para isso, mesmo sendo confrontada, diariamente, sobre sua capacidade de cuidar e prover. Usou os recursos que tinha para seguir em frente. E seguiu. Afinal, a vida se impõe.
A adolescente mãe se tornou uma jovem mãe de dois. Trabalhou, formou-se, construiu uma família e desafiou as imposições e julgamentos.
Em diálogo, juntas poderíamos caminhar e ampliar as possibilidades dela se apropriar daquilo que já estava posto e seguir o percurso escolhido e desejado. Mas, antes, precisaríamos percorrer aquele chão que ela havia pisado a vida inteira: a infância, parafraseando aqui Lya Luft.
A infância guarda os rastros do que nos tornamos, e muitas vezes é onde precisamos buscar respostas. Aquilo que parece ter ficado lá atrás, como dizem “superado”, pode estar ainda com a gente, de outras formas. É a vida dizendo: volte para lá, busque o que ficou perdido.
E ela foi, corajosamente. Abraçou a menina que, um dia, sentiu tanto medo diante daquilo que chamaram de irresponsabilidade. Não podia mais castigar a si mesma. Não podia mais se definir pelo que, supostamente, disseram que foi “errado”.
Estes dias, ela passou por este caminho novamente. Chegou sensibilizada na sessão. Era o medo de ter voltado para lá, para aquele ponto do passado. Foi quando eu disse:
“Você vai passar muitas vezes por este lugar, mas não voltará para ele porque já saiu dele.”
Silêncio (no atendimento online é como um abraço, muitas vezes) ♥️
Roberta Rocha
Psicóloga de meninas e mulheres | Terapeuta de casais e famílias | Facilitadora de encontros entre mulheres
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