Pai

Escrevi este texto um dia antes do "dia dos pais", esta data contestada pelo meu Pai que dizia que não era preciso TER um dia para (SER) celebrar a vida de quem se ama.

Este ano, em especial, passar por esta data que também é perto do aniversário dele, dia 16 ele faria 67 anos, tem sido mais doloroso.

Pai, há uma semana um dos seus melhores amigos partiu para perto de você, levou com ele mais um parte sua que estava viva. Eu amava escutar o que ele me contava sobre o que vocês viveram juntos. Sei que vocês já estão juntos celebrando o amor e este reencontro.

Sim, ele deixou muitas coisas aqui com a gente, a família dele que é nossa também, uma filha linda que é minha amiga e cunhada, sei que juntas vamos nos acolher e fazer algo de bom com a vida. A partida dele me levou para uma camada deste processo de luto que eu não tinha acessado.

Nos últimos anos celebrei estas datas com muita gratidão pelos 31 anos que vivi com você Pai, ritualizei ouvindo suas músicas preferidas, lendo suas poesias e folheando seus livros.

A dor de não ter mais seu abraço, seu cheiro, sua comida, de ouvir sua voz e o som do seu violão estava sendo suportada pela memória de todos os nossos encontros em vida.

Mas, este ano, a vida me convidou a fazer este percurso de outra forma, está mais triste e doloroso o enfrentamento deste vazio, a dor daquilo que poderia ser e nunca será está mais latente aqui.

Está me lembrando o começo da vida sem você, eu não sabia como poderia viver sem seu olhar, sem a minha imagem que refletia na sua fala que sempre devolvia amor, possibilidades e gentileza, você via em mim coisas que eu não poderia ver e saber sobre mim se não fosse pelo seu olhar.

Estou sentindo falta daquela parte minha que morreu com você. Sinto falta de me ver em você.

E sei que mesmo quando tudo parece perder o sentido com a morte, a vida se apresenta, ela que é abundante e me faz renascer para viver o que ainda há pra viver, por mim, por você, por nós. Te amo, Pai.